Dentre as várias manifestações da cultura popular, o circo está presente nas médias e pequenas cidades brasileiras como uma fonte de entretenimento e expressão artístico-cultural. Com uma equipe de palhaços, equilibristas, acrobatas, ilusionistas, atrai crianças e adultos para seus espetáculos que, em geral, saem encantados com o que veem.
Nem sempre foi assim. O circo remonta ao mundo antigo, especialmente Roma, com espetáculos grandiosos com lutas de gladiadores, apresentações com animais e envolvia muita violência e até mesmo mortes. O circo moderno, de que somos herdeiros, teve sua origem no século XVIII, a partir do que os espetáculos passaram a ser caracterizados mais pela habilidade artística e acrobática.
O funcionamento de um circo pressupõe a existência de uma equipe articulada tanto de artistas como de apoio. Na montagem de um espetáculo, tudo é pensado para funcionar sincronicamente e cada um deve estar cônscio de seu papel porque uma falha pode comprometer todo o espetáculo.
O espetáculo é o ápice do funcionamento da estrutura circense. Desde o planejamento, objetiva-se encantar e entreter o público, comunicar uma mensagem e para que isso seja possível, há uma cadeia que funciona organicamente. São várias equipes: montagem, cenografia, segurança, manutenção, sonoplastia, iluminação, bilheteria e recepção, artistas. Tudo pronto, após o tradicional dito – “respeitável público” – eis que inicia a magia e por quase duas horas, olhos brilhantes se encantam com a apresentação preparada com tanto esmero.
Durante o espetáculo, os acrobatas fazem movimentos que demonstram extrema habilidade e treinamento. Algumas acrobacias parecem desafiar não apenas o limite do corpo humano como também as leis da física. Em todo o tempo, em sua performance, o artista sabe que pode executar o movimento porque todos os cuidados com segurança estão presentes e há uma equipe pronta para qualquer eventualidade. Ao girar freneticamente no ar ou dar cambalhotas, ele sabe que seus parceiros de cena estão prontos para garantir que a acrobacia (ou malabarismo) seja executada com perfeição e por isso, se joga sem receios.
Ao final, todos os envolvidos agradecem ao público, que aplaude efusivamente. Os aplausos são para todos e não somente para um artista. E mesmo uma performance solo só é possível porque toda a equipe está presente para assegurar que tudo corra bem.
Não é insano considerar que um espetáculo circense tem algo a ensinar sobre a dinâmica da obra de Deus. Primeiro, o reino de Deus é um empreendimento coletivo que pressupõe a participação de muitos e não há um astro ou estrela central. Todos são protagonistas e têm relevância. Assim como nenhum artista pode dispensar a participação de outros durante a apresentação sob o risco de ser frustrado, na seara do Senhor a colaboração de todos é fundamental.
Foi o próprio Deus quem planejou a salvação e deu seu filho unigênito – Jesus – para que aquele que crer, tenha a esperança da vida eterna. A missão é de Deus e nós somos seus colaboradores. Ele é a estrela e sua glória é a razão da existência humana. É para ele que desempenhamos nossos papéis a fim de vê-lo glorificado.
No trabalho de evangelização nos diversos espaços geográficos do planeta, há muitos desafios que requerem acrobacias e malabarismos como aprender a língua, inserir-se no contexto sociocultural, enfrentar as oposições, prover o sustento físico e material, responder a demandas de diferentes ordens. E é nesse momento que os missionários precisam contar com as demais equipes que compõem a estrutura da obra.
Se parte da equipe falhar, todo o trabalho poderá ser afetado. Se o artista circense conta com outro para não cair e sofrer alguma fratura, o missionário precisa dispor daquele que sustenta, que ora, que apoia, que cuida, que aconselha, enfim, que se importa e anela que a obra seja feita com êxito. A glória é de Deus e ao fim do espetáculo quando todos se apresentarem diante dele, deveremos demonstrar como foi exitosa toda a performance.
Não há missionário sozinho, o sucesso da obra é resultado do trabalho de vários. Em todo o Novo Testamento temos exemplos dessa máxima. Deus pode levar um ou mais para o palco e deixa uma equipe completa nos bastidores. Paulo foi o apóstolo dos gentios e fez um trabalho fenomenal, mas se observarmos com cuidado, nada fez sozinho. Desde sua conversão, quando Ananias foi ter com ele, até sua prisão em Roma, observamos um conjunto de pessoas ao seu lado, agindo para cumprir o propósito do reino de Deus (Atos 9, 13-28).
E assim como a companhia circense que ao encerrar uma temporada em dada localidade, desloca para outra para buscar novos públicos e oferecer entretenimento, a obra de Deus está em movimento. À medida que uma região é evangelizada, com a plantação de igrejas, passa-se a outra região para dar continuidade à expansão do reino de Deus. E sempre novos personagens ingressam para contribuir com o espetáculo.
Deus é quem projetou ser glorificado entre todos os povos e para o homem pecador preparou o salvador. E para executar o espetáculo da salvação, ele conta com pessoas reais (com suas limitações e anseios) para levar adiante a mensagem da salvação. E mesmo que a performance seja perigosa e desafiadora, é ele mesmo que assegura que durante todo o processo, os colaboradores não estarão desamparados (Mt 28.20). Há equipes prontas para apoiar, estas que são a expressão do cuidado do soberano Senhor.
Colunista: Sandra Mara Dantas