Quando Cristo tornar-se o nosso tesouro mais precioso, finalmente nosso coração estará no lugar certo.
Estudando o Evangelho segundo Mateus com alguns irmãos africanos, um deles interrompeu a leitura perguntando de maneira direta: “como saber onde está nosso tesouro?”. Ele se referia a Mateus 6.21, onde Jesus afirma que “onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Senti que esperavam uma resposta para tornar o assunto mais objetivo. Passamos algum tempo lendo todo o texto e ligando as porções bíblicas que falam sobre “tesouro” e “coração”. Expliquei que Jesus nos chama a vivermos com os valores indestrutíveis do Reino e que isto deve governar o nosso pensar, falar e agir. Ao fim, um deles, com uma palavra prática exclamou: “Onde colocamos nosso dinheiro, trabalho e tempo, aí está o nosso tesouro… e também o nosso coração”.
Em todo o mundo há 2 bilhões de pessoas que desconhecem Jesus e no Brasil há diversos segmentos ainda não evangelizados. Como entender o forte crescimento da Igreja de Cristo coexistindo com os bolsões sem o Evangelho? A multiplicação de congressos, encontros, livros e exposições bíblicas em contraste com o quadro de milhões, bem próximos a nós, que pouco ou nada sabem do Cordeiro de Deus? As concentrações cristãs com milhares – e dezenas de milhares – a poucos metros de vidas em plena desesperança e angústia?
Parece haver uma crescente distância entre o que se alardeia sobre a missão da Igreja e a realidade das ruas, matas e sertões. A missão é mais estudada do que praticada. O amor é mais explicado do que manifesto. A evangelização é mais ensinada do que exercida. Talvez seja preciso, ao fim do dia, de fato pensar onde investimos nosso tempo, esforço e dinheiro… e ver onde está nosso coração.
Em boa parte do mundo situações de crise tem se mostrado como boas oportunidades para demonstrar o amor de Deus. Igrejas do Egito têm socorrido vítimas da terrível guerra na Síria. Cristãos no Norte do Iraque têm abrigado islâmicos que fogem do extremismo terrorista. Muitos missionários e igrejas contribuem para tratar os enfermos contaminados pelo Ebola e conter o seu avanço na África. Advogados cristãos se engajam na luta pelos direitos humanos em várias partes do mundo, como no Paquistão e Irã. A Igreja Indiana se desperta para socorrer crianças e adolescentes, vítimas de agressões em seu país. A Igreja Brasileira se movimenta de forma mais visível entre os segmentos menos evangelizados e com maior carência social, como os indígenas, ribeirinhos, quilombolas e ciganos, dentre outros.
Conversei dias atrás com um missionário indiano que partilhava sobre algumas crises no Norte do seu país. “Entre perseguições e oportunidades, a Igreja caminha mostrando o amor do Pai”, dizia ele. Fez-me pensar nesta mistura de riscos e oportunidades. Os ambientes com maior carência sempre apresentarão maiores riscos, mas também ótimas oportunidades. Um copo de água para quem tem sede é muito mais significativo e transformador.
Envolver-se com as causas de Cristo demanda redefinir o nosso tesouro. Mudá-lo do eixo dos desejos puramente individuais e transitórios para as causas do Eterno, seja perto ou longe. Quando Cristo tornar-se o nosso tesouro mais precioso, finalmente nosso coração estará no lugar certo.
Artigo de Ronaldo Lidorio publicado na Revista Povos e Línguas.
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