Sou da geração Y, a geração que mais ouviu sobre missões na igreja brasileira. Minha geração conheceu a invasão do áudio visual, as transparências deram lugar aos projetores, as revistas missionárias que foram trocadas por vídeos em redes sociais e tablets ou leitores digitais. Minha geração foi a que mais enviou brasileiros ao mundo como imigrantes ou missionários.
A geração Y acompanhou com a rapidez necessária as mudanças tecnológicas. Não pode-se dizer que é a geração mais inteligente, mas com certeza é a geração mais informada. A informação que nos anos 90 e primeiros anos dos 2000 era algo extremamente caro e difícil, agora torna-se acessível, num clicar de uma tela. O que isso repercute na Missão?
A SEPAL em 2005[1], constatou que houve um decrescimento no número de obreiros transculturais brasileiros. Nas décadas de 80 e 90 esse aumento era de 12,8% enquanto que nos primeiros anos do milênio esse número subiu apenas 3,5%. O que aconteceu nas duas últimas décadas que gerou esse número? Por quê apesar de tanta informação, o número de vocacionados nas agências missionárias não muda?
Nos últimos anos o Brasil passou por transformações sociais sem precedentes; acredito que isso contribui para uma “melhora da qualidade de vida”, dando aos brasileiros poder de compra e a tão sonhada estabilidade. A geração X, hoje está entre 40 e 50 anos de idade, e perceberam que ao criarem seus filhos, o mundo que viveram não existe mais. O sentimento de dar aos filhos o que não tiveram, pode ter criado uma geração hedonista e centrada em si mesma. Terreno fértil para a teologia da prosperidade e outros problemas estruturais encontrados na igreja brasileira.
Os paradigmas missionários no Brasil estão ainda passando pelo ajuste do bug do milênio[2], com as organizações entendendo que a pergunta da geração de hoje não é onde servir?, mas, como servir? Nos anos 90 e primeira década de 2000 fomos bombardeados por informações de povos não alcançados e estáticas que nos faziam ter peso na consciência e mesmo assim nos anos seguintes o número de obreiros continuou estagnado.
A figura do missionário também está passando por um ajuste “millenial”[3], aquele desbravador que antes encarava malárias sem fim, e a comunicação feita em cartas que levavam meses para chegar, se chegassem, hoje é presente em redes sociais com selfies, de suas descobertas seja em comidas ou gente exóticas. Paul Freston[4], em 2008 antevia o impacto na tecnologia nas missões brasileiras, quando disse que os brasileiros passavam mais tempo em frente ao computador do que dedicando-se ao aprendizado da língua e convívio com o povo com quem serviam.
O avanço tecnológico fez com que novas fronteiras se abrissem, mas velhos fantasmas surgissem: uma vida confortável, com profissões bem definidas e estáveis, na segurança que podemos ter “minha casa, minha vida”[5] fez esquecer-nos daqueles números e estáticas e músicas que cantávamos de ir aos perdidos.
No entanto, há uma nova luz raiando. Com esses ajustes, vemos que a geração Y está chegando à liderança missionária brasileira; recebendo o bastão de Baby boomers e líderes da geração X. E com essa chegada, novos diálogos surgem. A dicotomia fazer missões e ser missional está mais evidente em nossos círculos teológicos, igrejas e agências missionárias. Jovens querem oferecer suas profissões a serviço do Reino, e discussões nacionais como EMEP, SIM, Todos somos vocacionados e Vocare tem surgido nesse cenário de mudanças. Espero que tenhamos muitos selfies, curtidas e posts dessa geração que pode sim viver a Missio Dei, não importando muito o lugar, mas como vivê-la; Afinal a geração Z conta conosco.
Texto de Wellington Barbosa – Missionário transcultural desde o ano 2000. Envolvido com mobilização, treinamento e Business As Mission, coordenou projetos missionários no Brasil, Bolívia e Sudeste asiático. Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Antropologia Cultural e Estudos da Missão e Mestrado em Gerenciamento e Marketing. Consultor para Novas Frentes Missiológicas na Missão Kairós.
[1] Conforme, Pesquisa feita Por Ted Limpic, em 2005.
[2] Nome dado ao ajuste sofrido em aparelhos tecnológicos no fim dos anos 90, quando os calendários tiveram de ser acrescidos mais dois dígitos.
[3] Nome dado a geração de pessoas que nasceram até o ano 2000.
[4] Conforme plenária apresentada no 5o CBM, em águas de lindoia-SP, em Outubro de 2008.
[5] Nome de programa social do governo federal brasileiro, que facilitava acesso e crédito para a compra da casa própria, para famílias de baixa renda.
Bom texto. Também faço parte da geração Y, mas sei que há muitas coisas boas das gerações anteriores que não devemos ignorar.
Quanto à questão do aumento do número de missionários, acho que o apelo por isso diminuiu muito. Quando recebi o meu chamado em 2004 eu me lembro que haviam muito mais convites e menos informação. Hoje há muito mais informação e menos convites.
Muito interessante suas colocações aqui irmão Eduardo.
Conforme diz a Palavra, realmente os mais novos precisam aprender com os mais velhos.
Poucos desafios, convites, tem sido feito para que as pessoas se envolvam em missões, e hoje temos muita informação… É preciso ser feito alguma coisa :)
Por Missões