Esse post é a parte 2 de um artigo. Para ler a primeira parte clique aqui.
Infelizmente o termo missionário está totalmente deturpado no contexto brasileiro: um evangelista de televisão é chamado de missionário, o mesmo título é dado à esposa de pastores e às intercessoras ou lideres de reuniões ou círculos de oração.
Creio que é necessário diferenciarmos missionários de missionários transculturais.
Assim teremos condições de mostrar a realidade do trabalho transcultural aos não alcançados que recebem somente 0,5% dos recursos financeiros das igrejas no mundo.
Em nossas pesquisas, realizadas com mais de 15.000 pastores e líderes de igrejas, não encontramos nenhuma igreja que invista mais de 50% de suas entradas em missões, enquanto a Igreja dos Povos de Toronto, Canadá, chegou a investir mais de 78%; os Irmãos Morávios tinham um missionário para cada 12 membros, segundo Patrick Johnstone em seu livro A Igreja é maior do que você pensa. Creio que eles podem servir de modelo.
Não é necessário muito esforço para sermos modelo ou transtornarmos o mundo, como fizeram os crentes primitivos (At. 17.6). Se cada crente brasileiro investir em média R$ 30,00 mensais em missões transculturais, que seria 200 vezes mais que o investimento atual, poderia multiplicar a força missionária em 200 e atender a demanda dos 6800 povos que não conhecem Jesus… Isto é sacrifício? …É isto utopia?
Somente chegaremos aonde nossa fé alcançar. Pensando nisto nos lembramos do texto de II Rs. 13. 14 a 19 que fala do encontro do profeta Eliseu com o rei Jeoás. Ao visitá-lo Jeoás recebeu a palavra para que abrisse a Janela do Oriente, onde estava o maior desafio do povo de Israel. Parece que podemos fazer um paralelo em nossos dias, quando olhamos para a Janela do Oriente, a Janela 10-40, onde está o mundo muçulmano árabe. Eliseu disse para Jeoás que pegasse o arco e as flechas do livramento do Senhor que seriam as flechas de livramento contra os sírios. Ele tinha o local determinado para a vitória decretada pelo Senhor. Jeoás recebeu a ordem de pegar as flechas e simbolicamente ferir a terra. Ele poderia fazê-lo 5 ou 6 vezes e este número seria o final do inimigo do povo de Israel. Mas Jeoás o fez, somente 3 vezes e causou indignação no velho profeta.
Alguns teóricos, considerados experts em missões, têm tido uma preocupação muito grande e desnecessária com o Islamismo, Hinduísmo, Budismo, Nova Era, etc, considerando um ou outro como o maior perigo para a Igreja.
Creio que o maior perigo para a igreja está dentro da própria igreja: a apatia, a indiferença, a indolência, o conformismo e o materialismo modernos, que resultam na Grande Omissão.
A Palavra de Deus diz claramente que se a nossa esperança fosse somente nesta vida, seríamos os mais miseráveis dos pecadores. Vejo que a egoísta Teologia da Prosperidade tem afetado tremendamente os crentes brasileiros, pois a Bíblia diz que o Senhor quer nos abençoar para que sejamos uma bênção para as nações.
A distorção é tão grande, que hoje é normal que cantores e artistas decadentes converterem-se por causa do grande mercado evangélico.
Outros aproveitam a oportunidade de se apresentarem nas igrejas cobrando cachês absurdos, às vezes em dólares. Tais somas chegam a alcançar 30 mil dólares. Enquanto isso, missionários desenvolvem trabalhos sacrificiais e normalmente recebem ofertas de R$ 100.00, quando recebem.
Muitos líderes induzem os crentes a darem uma oferta missionária para o ministério de um palestrante que chegam a ultrapassar o valor de R$ 1.000,00, mas, no final, a maior parte fica para a obra local. Outros convidam missionários e os usam para tirar ofertas para algum obreiro da própria igreja. Creio que estes que praticam tais aberrações não sejam verdadeiros pastores, mas sim lobos devoradores. Isto aconteceu com freqüência com nossos missionários.
Falamos do que vivemos, pois visitamos em média anual, como organização missionária, mais de 2000 igrejas.
Cantores e artistas nada cristãos estão se aventurando no mercado evangélico com o apoio e encorajamento destes mesmos pastores. Um destes artistas é conhecido na mídia por mostrar somente as nádegas, mas conta com a simpatia de vários líderes, pois atrai multidões. Isto é inconcebível.
Há algum tempo estive numa destas igrejas em São Paulo e um jogador de futebol teve a oportunidade para trazer a Palavra. Foi um Aimaas da vida (II Sm. 18. 23-29), pois não tinha nenhuma mensagem a trazer àquele povo. Foi só gritaria e perda de tempo. Após a “mensagem”, o pastor trouxe uma profecia dizendo que Deus o tinha levantado para manifestar Sua Glória e que aquele jogador de futebol iria tomar o lugar de um outro atleta, que não teria sido fiel, segundo a “profecia” do pastor. Na realidade este atleta tem dado um bom testemunho. Alguns meses depois o jogador-palestrante apareceu na mídia por ter suas fotos publicadas numa famosa revista gay brasileira. Nas fotos ele estava nu.
O ex-Rev (sic) Moon, propagador de uma seita diabólica, ensina que Cristo fracassou em Sua missão na terra e que a cruz não tem nenhum valor. Ele disse que teria sido enviado como substituto de Jesus.
Mesmo dizendo estas coisas conseguiu seduzir e levar ao Uruguai, em uma de suas investidas no meio evangélico brasileiro, mais de 900 pastores. Homem diabólico e sedutor. Que tipo de liderança representam?
Nos Estados Unidos o Projeto Josué foi levantado para adotar os 1739 povos menos alcançados, com uma população acima de 10.000 habitantes. Mudou sua liderança e, em seu último boletim, a ênfase para oração era dada à famosa Universidade de Boston, que foi fundada por evangélicos. Escrevi aos líderes, lembrando-os do objetivo da formação do projeto. Até hoje não recebi nenhuma resposta. Digo isto sem desprezar a necessidade de orar pelos estudantes daquela universidade, mas por que a finalidade desse projeto era direcionar esforços para os povos menos alcançados e negligenciados do mundo.
Hoje existem cerca de 2.000 povos sem nada traduzido da bíblia; há somente 2,8 missionários para atendera cada um milhão de muçulmanos no mundo; a população de muçulmanos no mundo ultrapassa a casa de 1.7 bilhão, embora muitos deles sejam apenas muçulmanos nominais ou sincretistas.
A maioria das escolas brasileiras de ensino religioso tem copiado currículos estrangeiros e submetido os estudantes a uma realidade diferente da nossa. A Horizontes fez uma mudança radical em seu treinamento missionário e alcançou resultados extraordinários. O treinamento missionário passou a ser composto pela parte formal, não formal e informal, a fim de desenvolver o candidato em várias áreas: caráter cristão, trabalho em equipe, conhecimentos de primeiros socorros, treinamento bivocacional, inteligência emocional, sentimental, mental, prática, transcultural prévia, mobilização missionária, lingüística, visão global, etc. Já no segundo ano o candidato deixava o Brasil para dar continuidade aos seus estudos em um país de língua espanhola, em uma de seus trabalhos na América Latina.
Também desenvolveu um método em que todos estejam comprometidos com uma visão de despertar a igreja brasileira para cumprir seu destino de fazer missões. A Horizontes procurou também baixar os custos. Hoje estamos recrutando 100 estudantes para a REGIÃO mais fechada e de maior perseguição com 30% do custo.
Infelizmente no Brasil, hoje, somente 5% dos que se dispõem para serem treinados para ir aos campos transculturais têm o apoio parcial de seus pastores. A parte restante vem de recursos levantados através de literatura, vídeos, bazares, etc.
Tudo isto é promovido em parceria com estudantes, voluntários e obreiros da Horizontes. Isto tem mais que dobrado o numero de candidatos e também levantado uma força missionária para os não alcançados.
Fiquei muito surpreso no Congresso da Sepal de 2001, que congregou muitos pastores. O seminário de missões atraiu somente 12 pessoas e três delas eram os queridos amigos Ken Kudo, Josué Martins, os preletores do seminário, e eu, demonstrando que missões transculturais estão enfrentando uma das maiores crises no meio de liderança brasileira. Algo radical tem que ser feito com urgência.
Oswald Smith, famoso escritor e pastor de uma igreja com mais de 800 missionários, afirmou com muita coragem, conhecimento: “O primeiro e maior obstáculo para missões são os pastores”. Ele tinha experiência no assunto.
Os pastores têm a incumbência de descobrir vocacionados, orientá-los, treiná-los, enviá-los aos campos não alcançados e sustentá-los dignamente. Posso dizer, por experiência, que, na prática, a maioria se opõe a tudo isso.
A frase de George Peters diz uma verdade incontestável: “O mundo está mais preparado para receber o Evangelho do que os cristãos para propagá-lo”.
O filme Jesus é, hoje, o filme mais pirateado no mundo muçulmano. Ele foi apresentando na época do Natal em duas nações muçulmanas. Vários muçulmanos tiveram sonhos com Jesus e pedem missionários que os discipulem nos caminhos do Senhor, mas onde estão? Um presidente de uma nação muçulmana pobre pediu obreiros brasileiros a Horizontes.
Parece que chegou o tempo em que as pedras estão clamando…
Estou vivendo a mesma experiência de Jeremias e não posso me calar diante de tantos fatos. É hora para acontecer algo radical…
Fiquei impressionado e admirado pelo Senhor ter me feito entender que a visão dada a organização da qual faço parte de conscientizar e despertar a igreja brasileira de sua letargia para missões transculturais. A princípio isto me trouxe uma certa decepção, mas compreendi que se a igreja não tem visão missionária, não adianta preparar obreiros e enviá-los à Fortaleza de Satanás. Seria como enviar Urias ao front e tirar todo o apoio provocando sua morte.
Se os líderes tiverem visão missionária, os recursos, obreiros, treinamento, envio e apoio digno aos valentes soldados deste novo milênio, virão como consequência.
Gostaria de enfatizar que, com um treinamento adequado pode-se formar bons obreiros. Líderes da Junta de Richmond, batistas dos Estados Unidos, acompanhou obreiros do Projeto África Sahel por quase quatro anos e viram que latinos bem preparados podem ajudar no término da tarefa na evangelização mundial. Os 96 radicais que entraram na Janela 10-40 causaram boa impressão a missionários europeus e norte-americanos e há uma procura por mais obreiros latinos.
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