A frase atribuída a Monteiro Lobato – “quem não lê, mal fala, mal ouve e mal vê” – evidencia uma verdade: a leitura é fundamental para compreendermos o mundo. O exercício da leitura descortina horizontes e permite o desenvolvimento do senso crítico, da capacidade de argumentação e problematização da realidade e, simultaneamente, da reflexão e elaboração de alternativas.
Para servir ao reino de Deus podemos (e devemos) buscar expandir nossos conhecimentos e a leitura é uma estratégia válida. Por isso, aqui seguem algumas indicações.
LIDÓRIO, Ronaldo. Teologia, Piedade e Missão. A influência de Gisbertus Voetius na missiologia e no plantio de igrejas.
O autor é um dos maiores nomes da missiologia no Brasil, pastor presbiteriano com sólida experiência no campo missionário e no livro em apreço, vale-se da obra do teólogo holandês Gisbertus Voetius para construir uma reflexão acerca da evangelização e plantio sadio de igrejas.
Gisbertus Voetius fou um teólogo e pastor holandês que viveu no século XVII e se preocupou em, nas palavras do autor, “integrar a igreja à academia teológica”, isto é, demonstrar em sua obra que a vida piedosa não se separa do conhecimento teológico. E sua convicção de que igreja é chamada e enviada para a glória de Deus é uma inspiração para a missiologia contemporânea.
Sua missiologia é teocêntrica (o centro da missão é a glória de Deus) e trinitária (realizada pela Trindade). Compreendia que toda a bíblia trata de Deus e sua missão, logo, missões são algo natural na vida da igreja. E na tarefa missionária, o plantio de igrejas é parte inerente para a frutificação, leia-se, para a expansão do evangelho.
G.Voetius desenvolveu uma ‘teologia do plantio de igrejas’ que consiste na constituição da igreja local e na responsabilidade desta em enviar plantadores (missionários) para pregar e iniciar o processo de conversão que redundará em uma nova igreja local que manterá uma relação doutrinária e espiritual com a ‘plantadora’.
Após a exposição dos principais pontos da teologia de Voetius, Lidório apresenta algumas “considerações missiológicas para os dias atuais” e encerra o texto com a exposição das razões (eclesiológicas, missionárias e estratégicas) para o plantio de igrejas e orientações para tal que corroboram suas argumentações.
A igreja é projeto de Deus e ao longo dos séculos, ele tem cuidado, inclusive inspirando pessoas – intelectuais e teólogos – a refletirem a respeito dos modos de manter-se íntegra e cumprindo o propósito original. G.Voetius é um desses que Deus levantou para a edificação e estímulo não apenas em seu tempo, o século XVIII, também nos vindouros, aí incluído nosso século XXI.
A escolha de Ronaldo Lidório em destacá-lo é oportuna. Fê-lo conhecido, despertando o interesse pela obra que produziu e demonstra como o passado dialoga com o presente. As experiências são históricas e ao refletir sobre como são construídas, compreendemos o momento presente como decorrência de um processo composto por diferentes sujeitos, e que, neste caso, guiados pelo Espírito Santos têm objetivo de glorificar a Deus em suas práticas.
Com uma leitura aprazível – a redação é fluída e bastante didática – o livro, de pouco mais de cem páginas, proporciona ao leitor um estudo profícuo da relação entre a tarefa do cristão na missão de Deus e seu cumprimento. E ao se atentar para as orientações práticas apontadas pelo autor, pode-se compreender que em qualquer tempo histórico, a dependência da ação divina para o cumprimento da missão não esmorece e é o dínamo que move o plantio e o desenvolvimento de igrejas e não é demasiado enfatizar, para a glória de Deus.
As boas novas em todas as línguas. A história de Cameron Townsend
Escrito por Janet e Geoff Benge, o livro é uma biografia de Cameron Townsend, missionário norte-americano que iniciou o maior trabalho de tradução bíblica de nosso tempo. O livro trata das experiências desse homem que dedicou toda sua energia, seu conhecimento, sua vida a tornar a palavra de Deus acessível àqueles que não a tinham em sua língua nativa para que Jesus fosse glorificado.
Cameron Townsend nasceu na Califórnia em 1896 e desde sua juventude se envolveu com a obra missionária, inicialmente na Guatemala e ao longo de sua vida, em vários países latino-americanos.
Por volta de 1918, ao evangelizar e oferecer um exemplar da bíblia em espanhol para um indígena guatemalteco da etnia Cakchiquel, este indagou: “você tem um em Cakchiquel?”. Sua resposta foi: “não existe, sinto muito”. O indígena replicou: “bem, se o seu Deus é tão grande, porque Ele não pode falar comigo na minha língua?” Townsend compreendeu que Deus o estava chamando para traduzir a bíblia para aquele povo e assim, nasceu a Wycliffe Tradutores da Bíblia, uma das principais agências dedicadas a tradução bíblica em todo o mundo.
O trabalho desenvolvido por Cameron Townsend demonstra que a tradução bíblica não é secundária na evangelização dos povos. O acesso às sagradas escrituras na língua nativa é fundamental para que o povo a compreenda a partir de seus referenciais culturais, de seu próprio modo de expressão e comunicação. Na história cristã, percebe-se que regiões onde a tradução bíblica não foi prioridade, ao longo do tempo, a igreja se enfraqueceu como no norte da África.
Nas páginas do livro, vamos acompanhando os passos de Cameron Townsend em aprender as línguas minoritárias de alguns povos nativos da América Latina, criar uma gramática própria e fazer a tradução, treinando homens e mulheres para esse trabalho. É uma leitura que cativa, empolga e demonstra que Deus usa todo aquele que se dispõe a ser útil em sua Seara e, concomitantemente, capacita e prepara os instrumentos e estratégias necessários. Até sua morte que ocorreu em 1982, Cameron Townsend esteve atuante e sonhando que o trabalho de tradução bíblica se expandisse em todo o planeta.
Colunista: Sandra Mara Dantas