Os profetas do Antigo Testamento eram arautos advertindo, consolando, anunciando e confirmando os desígnios que o próprio Deus estabelecera para Israel e os povos que com este se relacionava.
Em todo o Antigo Testamento encontramos inúmeros profetas (e profetisas) de origens, formações e características diversas, com chamados específicos e com diferentes tempos de atuação. Podemos conhecer suas ações desde Gênesis a Malaquias. Cada um com uma história peculiar como a de Jeremias, chamado antes da concepção (Jr 1.12); Jonas que fugiu para não entregar a mensagem; Oséias, instruído a casar com uma prostituta; João Batista que preparou o advento do messias, e tantos outros com mensagens distintas e adequadas a grupos, pessoas e tempos determinados pelo próprio Deus.
A vida de um profeta não era fácil. O ministério profético requeria compromisso integral em fazer a mensagem de Deus conhecida, ainda que isto custasse sacrifícios. O profeta enfrentava oposições, perseguições e ameaças. Recordemos que Jeremias foi preso em calabouço, Jezabel ameaçou Elias que fugiu temeroso, João Batista foi morto por Herodes. Em outros casos, encontramos que a mensagem entregue nem sempre era acolhida…
E mesmo diante das condições adversas, os profetas cumpriram o ministério conferido e o apóstolo Pedro escreveu que anunciaram para a posteridade e não para si mesmos; falaram do que não vivenciariam, mas criam no cumprimento da mensagem (1 Pe 1.12). Os profetas vetero testamentários cumpriram o papel a que o Senhor lhes chamou e não viram o cumprimento da promessa de estabelecimento do Reino de Deus.
De semelhante modo, o missionário chamado para o trabalho de evangelização, plantio de igrejas e discipulado seja de pessoas próximas ou de povos distantes, cumpre tarefa semelhante. Ele anuncia mensagem que não é sua, abre mão de projetos e se dedica a causa do Mestre, atendendo à Grande Comissão: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28.18-20)
Como o profeta, sua vida é marcada por desafios. Ao ser enviado para determinado local, poderá enfrentar adversidades, não ser bem recebido pela comunidade, ser visto como intruso. Ou mesmo em local conhecido, não tem garantia de sua mensagem ter acolhida. Não é hipotético que seja desautorizado, caluniado, ignorado pelo teor de sua pregação que ao mesmo tempo que enfatiza o amor e a salvação em Jesus, requer arrependimento, conversão e uma vida de santidade. Podemos lembrar das desventuras dos profetas Urias (Jr 26) e Oséias.
Por outro lado, Hulda, Daniel, Isaías são exemplos de profetas que ainda que enfrentassem reveses, sua atuação foi menos penosa que outros, sendo aceitos e reconhecidos. Alguns, inclusive, tiveram lugar de prestígio (social e/ou político) como Samuel, Natã, Zacarias.
O fator comum entre os profetas do Antigo Testamento é que foram portadores de uma mensagem que não era deles mesmos, era de outrem, de Deus para outros (Israel, povos pagãos). E todos aqueles que anunciaram mensagem de salvação, predisseram do que não era para si mesmos, mas para outros, ainda que em futuro distante.
José previu que o povo de Israel sairia do Egito para a terra prometida, no entanto morreu antes que isso acontecesse. Isaías anunciou o messias, mas não o conheceu. Joel profetizou o batismo no Espírito Santo, algo que não experimentou. Todos eles apontaram o horizonte, sem alcançá-lo.
No Novo Testamento, durante seu ministério, Jesus apontou que os profetas foram perseguidos (Lc 11.48-51) e anteviu que aqueles que o amam também sofreriam perseguição, mas estes são bem-aventurados (Mt 5.10). E muitos discípulos trabalharam sob ameaças, perseguição, ausência de recursos, sem esmorecer. O cumprimento da Grande Comissão constituía a fagulha que incendiava seus corações e moviam seus esforços de alcançar o maior número de pessoas no mundo conhecido – Jerusalém, Samaria e os confins da terra (At 1.8).
E ao longo dos séculos não tem sido diferente. O império romano perseguiu os que confessavam a Cristo, o tribunal da Inquisição queimou John Huss na fogueira, William Carey (o pai das missões modernas) gastou sua vida pela Índia, Adoniran Judson se doou pela Birmânia (atual Myanmar), Gunnar e Frida Vingren espalharam a mensagem pentecostal no Brasil e tantos outros que foram arautos da mensagem divina. Eles trabalharam arduamente, como os profetas, anunciaram a Palavra que não era sua, mas do supremo Senhor e não testemunharam o cumprimento da promessa – a volta de Jesus – uma vez que faleceram e descansam, aguardando o arrebatamento da igreja.
Este paralelo entre o profeta e a carreira missionária é passível de aplicação nesse século XXI. A mensagem da cruz não pertence ao missionário. Ele é obreiro – vocábulo que significa aquele que serve – e tem um Senhor que lhe atribuiu uma tarefa: “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) e é o anúncio das boas novas que o move seja em lugares próximos seja distantes. Seu propósito é transmitir fielmente a palavra de Deus, ainda que custe sua vida.
E não raro ouvimos de mártires que são presos, perseguidos e até mesmo mortos por não negarem a Jesus. Basta consultar redes sociais e sites de notícias que conhecemos histórias como de Helen Berhane, da Eritréia; de Hea-Whoo, da Coreia do Norte; do Pastor Leopoldo, do México e tantas outras. No entanto, a despeito de toda oposição e tentativas de silenciamento, como “voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus” (Is 40.3), o evangelho é anunciado.
Colunista: Sandra Mara Dantas