Por Ronaldo Lidório
Não apregôo uma proclamação estéril do evangelho, entretanto devemos entender que a ação missionária não deve ser definida em termos de resultados numéricos, visíveis e contábeis apenas. O princípio por trás desta afirmação é que, se não formos uma bênção perto (e esta é a nossa base onde se pressupõe fidelidade de vida) nós nunca seremos uma bênção longe. Creio que a fidelidade transpõe os resultados numa perspectiva de prioridade missionária em um contexto neotestamentário.
Atos 13:2 – Servindo em fidelidade de vidas
Em Atos capítulo 13 o Espírito Santo fala à Igreja em Antioquia para que separe Paulo e Barnabé. E o versículo 2 inicia dizendo:
“E servindo eles ao Senhor…”
“Eles” refere-se à Paulo e Barnabé, e não à Igreja em Antioquia, e há no contexto lingüístico grego três possibilidades para a construção da raiz do verbo central neste versículo: “servindo”.
A Primeira possibilidade seria o uso do termo “doulos”. “Doulos” refere-se ao servo ou escravo pessoal; aquele que segue o seu amo e senhor de perto, conhece os desejos do seu coração e até mesmo os antecipa. O “doulos” é alguém que se relaciona diretamente com o seu senhor e Paulo inúmeras vezes se autodenominou de “doulos” do Senhor Jesus Cristo. Entretanto “doulos” não nos dá aqui a raiz do verbo “servindo” no versículo 2.
Uma outra possibilidade seria o uso do termo “diakonos” para a construção do verbo. “Diakonos” era o servo que servia ao seu amo através do serviço realizado na comunidade. Quando o termo é usado para líderes da Igreja em Atos refere-se a um grupo de pessoas que demonstravam amor e honra ao Seu Senhor através daquilo que eram e faziam na comunidade dos santos. Entretanto “diakonos” também não é usado para a construção do verbo no versículo 2.
A terceira opção seria o uso do termo “leitourgos” (de onde temos ‘liturgia’ ou ‘liturgo’ em português). “Leitourgos” refere-se àqueles que servem ao Senhor sendo uma bênção para os seus irmãos. “Leitourgoi” seriam verdadeiros abençoadores, edificadores do corpo de Cristo. Pessoas que, pela vida e caráter, eram uma bênção perto, para aqueles que os rodeavam. Este é o termo usado para compor o verbo “servindo” (leitourgounton), ou seja, “servindo como leitourgoi”: abençoadores em Antioquia. “Então disse o Espírito Santo: separai-me para a obra a que os tenho chamado”.
Antes de serem uma bênção longe, entre os gentios, Paulo e Barnabé eram identificados como uma grande bênção perto, em Antioquia. A característica apontada pelo texto a respeito destes dois homens que iniciaram a obra missionária como a conhecemos hoje não foi a competência intelectual, títulos ou profundidade teológica mas sim fidelidade, e nesta ênfase eles eram fiéis perto.
Algumas aplicações práticas poderia ser feitas.
Uma aplicação pessoal.
Se você não é um “leitourgos”, uma bênção, perto (e não há nada mais perto de nós do que a nossa família) creio que você nunca o será longe.
Uma aplicação eclesiástica.
Se a sua igreja local ou agência missionária não for uma bênção perto (e não há nada mais perto da igreja do que a própria igreja), para aqueles com os quais você convive semanalmente no templo, lares e salas de aula, ela nunca o será longe.
Uma aplicação missionária.
Não envie para longe aqueles que não são uma bênção perto.
1 Co 4:9 – Vocação martírica
Como podemos avaliar o nosso esforço missionário ? A partir dos resultados na transmissão da Palavra ou a partir da fidelidade em transmiti-la ?
Creio que nós não fomos chamados a converter as nações; fomos chamados a testemunhar, e testemunhar com total fidelidade a mensagem de um Cristo vivo. É o que mostra-nos 1 Coríntios 4:9 quando o texto afirma que os “apóstolos” (representando a Igreja que avançava) eram postos em “último lugar”, como se “condenados à morte”. E termina dizendo que “nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos quanto a homens”.
O termo para “espetáculo” neste verso é “theatron” de onde temos a palavra “teatro” em português. “Theatron” literalmente significava “estar em um palco sendo observado”. A idéia é de um grupo teatral se apresentando em um palco iluminado por tochas que eram postas ao seu redor. Cada palavra dita, gesto realizado, movimento ou intenções estavam sendo cuidadosamente observados pelo auditório.
A verdade simples e contundente que sai deste texto é que você e eu, a Igreja de Jesus Cristo, estamos sendo observados, e não apenas por homens mas também por anjos. A ênfase desta afirmação portanto não é simplesmente kerigmática, no sentido simples de uma Igreja que existe para apenas proclamar o evangelho de forma inteligível, mas sim martírica: uma comunidade de santos que, antes de mais nada, foi chamada para falar, viver, agir e reagir em fidelidade de vida. O verso não fala a respeito de salvação mas sim de testemunho.
Missões não é um empreendimento que pode e deve ser medido pelos resultados alcançados mas deve ser definido pela fidelidade na comunicação do amor de Deus ao mundo e portanto não é a competência mas sim a vida e caráter que definirão a obra a ser realizada.
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