O movimento brasileiro de missões é um movimento que está chegando a sua meia-idade. Como todo movimento tem nuanças e variáveis. Nasceu de uma herança protestante evangélica e de missão que tinham por meta o avanço do Evangelho nos rincões dos sertões e selvas de nossa pátria. Em sua segunda metade esse movimento ganhou uma forte influência para os povos não-alcançados, especialmente com um avanço de mobilização missionária e o recrutamento e treinamento de centenas de jovens que abandonavam o mundo corporativo e acadêmico e embrenhavam-se nos rincões agora da América Latina, África lusófona e alguns mais audaciosos entravam nos mundos islâmico, hindu e budista no Oriente. Grandes mobilizadores marcaram esse momento do movimento brasileiro de missões que enfatizava o IDE. A preparação para os desafios atuais das últimas décadas se viram intocados pela boa vontade e “despreparo” da maioria de nossos jovens destemidos, contudo limitados para o desafios diante de si apresentados.
Segundo o missiólogo brasileiro, Ronaldo Lidório, os desafios de missões hoje são os mais difíceis[1] e a realidade missionária dos lugares de mais difícil acesso exigem estratégias distintas, além do ardor missionário presente em nossa geração predecessora é necessário que haja cooperação internacional e um aumento na capacitação acadêmica e profissional de nossos obreiros, especialmente para os campos de mais difícil acesso e permanência como o mundo hindu, budista e islâmico apenas desprendimento e boa vontade não são capazes de aumentarem a resiliência de nossos obreiros.
Há pouco mais de uma década uma nomenclatura começou a fazer parte do movimento missionário mundial, o famigerado BAM (Business As Mission), que começou da prática para a teoria, formou grupos teológicos de discussão em Pattaya na Tailândia e ganhou força primariamente entre os obreiros do eixo norte, começou a ganhar alguma menção nos redutos missionários internacionais depois de 2005. Os líderes brasileiros de missões conservadores e de vanguarda não viram com bons olhos, o que pensaram tratar-se de mais uma onda no movimento brasileiro que já sofrera anteriormente com as mudanças teológicas brasileiras pelos modelos de crescimento da igreja surgidos no fim dos anos 90 e a teologia de guerra espiritual que nasceu no próprio quintal do movimento de missões. Foram promovidos encontros, fóruns, e discussões pelas associações de professores e de agências missionárias e vimos que alguns brasileiros estavam se aventurando nessa nova empreitada, ainda que nebulosa, pois mudava o assistencialismo para um capitalismo, que ainda por mais teologicamente sólida fosse, era de encontro a nossa práxis missionária herdada dos missionários vistos quase como “ mártires, mendigos, malucos, ou o quê?”[2]
A AMTB, a associação de missões transculturais brasileiras, criou e oficializou sua primeira rede de trabalho de BAM, com a cooperação de um missionário batista que trabalhara na África lusófona. E ouviu-se de outros empreendimentos de brasileiros na longínqua China que estavam pela necessidade da falta de apoio e num empreendedorismo de necessidade atuando como bamers (praticantes de BAM). Sabe-se de brasileiros que abriram uma pizzaria na Ásia Central, num país devastado pela guerra, e outros que têm conseguido algum êxito no mercado de cafés, abrindo lanchonetes e empresas de comércio exterior. Há ainda iniciativas de criação de galinhas para beneficiar comunidades pastorais de baixa renda no sul da Ásia.
Em súmula o BAM e os brasileiros ainda seguem em fase experimental, o que vemos ainda são iniciativas pequenas que tem servido como plataforma de visto para alguns nos países mais fechados, e estamos no limiar ainda de um “case” de sucesso no movimento brasileiro que justifique a sua práxis, nos desafios atuais. Há um pequeno, porém movimento muitas vezes feitos por indivíduos levados por um espirito empreendedor do mote cultural que diz que somos brasileiros e não desistimos nunca, que ainda esbarra na grande liderança das agências missionárias brasileiras. Pois, estamos vivendo desafios de hoje com a mentalidade de ontem.
[1] Conforme desafio apresentado durante prédica no 6o Congresso Brasileiro de Missões em 2011.
[2] Título de artigo escrito pela missióloga, Antonia Leonora Van de Meer (Tonica) em 2001.
Artigo escrito por Wellington Barbosa – Missionário Transcultural desde 2000. Serviu em Treinamento e liderou equipes missionárias no Brasil, Bolivia e Sudeste Asiático, onde liderou a maior equipe brasileira na região entre 2009 e 2014. Bacharel Ciências Interculturais e Mestrado em Gerenciamento e Marketing pela UKSW (Indonésia). Prospector de negócios de uma empresa BAM na Ásia, atua em mobilização, treinamento e BAM para a Ásia muçulmana.