O Congresso Brasileiro de Missões – CBM – é um evento promovido pela Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) e realizado a cada três anos. Durante uma semana, agências e organizações missionárias, pastores e líderes, e interessados no tema participam de plenárias, palestras, oficinas, estudos e comunhão que renovam os ânimos, despertam a consciência e mobilizam com vistas a avançar na obra de evangelização, discipulado, plantação de igrejas e expansão do reino de Deus.
O último CBM ocorreu em novembro de 2022 com o tema central “Verdades que não podemos ignorar”, apresentadas e desenvolvidas por diferentes preletores. As verdades apresentadas foram: a missão deve ser cristocêntrica (Paulo Feniman), missões requerem unidade (Cácio Silva e Ronaldo Lidório), o Espírito Santo é o agente executor da missão (Dick Brogden), permanecer em Cristo é fundamental para gerar frutos na missão (Barbara Burns e Renaut Van Der Riet), as dificuldades devem ser deixadas ao pé da cruz (Jeannie Marie).
No presente ensejo, aqui se destaca a verdade “permanecer em Cristo” por sua singeleza e aparente obviedade. Singeleza porque é a constatação que a vida ordinária é missionária visto que ao aceitar a Cristo e tornar-se seu discípulo, reproduzirá seu modelo de vida e ação. E aparente obviedade por ser a verdade de Jo 15.5, “sem mim, nada podeis fazer”, isto é, somente estando com e em Cristo é possível obter sucesso na evangelização. E por mais que o próprio Jesus tenha enfatizado essa verdade que norteia o cotidiano, não raro, no decorrer da jornada, o cristão se vê envolto em tantas demandas que seguir a Jesus e em sua obra trabalhar parece ser um fardo demasiado pesado.
Ou seja, é mesmo a permanência em Cristo é uma verdade que não pode ser ignorada.
A missão é urgente, os povos precisam ouvir do plano de salvação, o tempo é exíguo, os recursos são escassos, há poucas pessoas dispostas para a tarefa missionária e as oposições são deveras intensas. Tudo isso é verídico e como conseguir vencer os obstáculos e desafios para ser frutífero no serviço do Mestre? A resposta é: devemos viver como Jesus viveu. Em cada ação da vida cotidiana, ele estava proclamando e demonstrando o reino de Deus.
A tarefa é do cristão, mas a missão é de Deus. São palavras de Jesus: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15). Podemos afirmar que não somos imprescindíveis, ele é, porque é a videira. Ser vara e frutificar é privilégio resultante da seiva produzida pela raiz e conduzida pelo tronco no decorrer do trabalho desenvolvido pelo lavrador. Logo, a realização plena é estar com o Senhor e não fazer coisas para ele, afinal, a glória é dele e para ele.
É certo que o cristão deve trabalhar pela evangelização dos povos (Mc 16.15), no entanto, é mister ter em vista que o efeito desse trabalho é de Deus. É o Espírito Santo quem convence o homem de sua condição de pecado e da necessidade de salvação. Em sua soberania, Deus pode executar todas as coisas, mas como pai amoroso agracia o crente com o privilégio de cooperar com sua missão e alegrar-se em ver os povos louvando-o e o adorando.
O fruto do trabalho do cristão não é um presente ofertado para Deus (foi ele quem o produziu), é o prazer de estar ao seu lado, de participar da obra do seu reino; caminhando e vivendo ordinariamente, dia após dia, conhecendo-o mais profundamente (Os 6.3). E só desfruta dessa alegria aquele que permanece em Cristo, que está em sua completa dependência.
Em um evento como o CBM, ouvir verdades como aqui destacada, desafiam os participantes e contribuem para reflexão a respeito do papel de cada cristão, que pela ação do Espírito Santo devem buscar cumprir a Grande Comissão. Ela não é uma novidade, é oportunidade de aplicar-se mais intensamente a uma vida cristã frutífera e conhecer as experiências de pessoas, pastores e missionários que tem se dedicado a missões há décadas e que a despeito de frustrações, sofrimentos e perseguições, permanecem abundantes em Deus e em sua obra.
Ciente dessa premissa, salienta-se que a tarefa missionária é mesmo premente em todas as esferas geográficas, sociais e culturais. Por isso, que cada cristão viva como Jesus: em cada dia e ação, faça tudo para a glória de Deus. Os desafios são inúmeros tanto nas grandes cidades quanto no sertão nordestino, tanto na América Latina como nos países asiáticos, entre os ribeirinhos do norte do Brasil assim como entre os povos não-alcançados da zona tropical do planeta, com os economicamente mais ricos bem como entre os mais pobres e excluídos, tal qual com os radicais muçulmanos ou os ateístas e panteístas.
A ênfase nas “verdades que não podemos ignorar” durante a realização do CBM é um indicativo de que os rumos da obra missionária, local ou transcultural, não são viáveis sem a completa dependência de Deus. Nunca é temerário reafirmar que ainda que os desafios sejam grandes, não se pode perder de vista que a missão é do próprio Deus soberano e cumprirá tudo que planejou (Is 46.10). Há avanços em todas as dimensões que atestam a preocupação e ação de todos envolvidos e compromissados e certamente, haverá o cumprimento do texto de Ap 7.9: “uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos”.
Colunista: Sandra Mara Dantas