“E o Senhor Deus disse: “Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade”. (Habacuque 2.2)
Profissionais da comunicação têm a tarefa de contar histórias da vida real. E quando estas histórias envolvem pessoas que dedicam suas vidas para levar a mensagem do Evangelho têm um significado ainda mais gratificante. No entanto, a comunicação a serviço do Reino de Deus enfrenta também desafios para conectar as pessoas ao mundo missionário.
Nesta entrevista, concedida ao Radar Missionário durante o Vocare 2018, o jornalista Phelipe Reis fala um pouco desta empreitada, abordando a passagem do jornalismo impresso para a era digital, a forma de divulgação do trabalho missionário e os impactos na sociedade.
Qual o maior desafio de comunicar pautas sobre missões pelo meio impresso?
Todos os veículos impressos vêm passando por uma grande crise e não é de hoje. Grandes jornais e revistas não conseguiram sobreviver ao advento da era digital. Quem não conseguiu se reinventar e se estabelecer na web, desapareceu. Tendo este pano de fundo, constatamos que é muito desafiador comunicar qualquer assunto via mídia impressa em um tempo em que a maior parte das pessoas prefere estar conectada em seus smartphones 24 horas por dia do que folhear uma revista ou um livro. A isso, somam-se outros problemas: nós, brasileiros, lemos pouco, no geral; no meio evangélico, muitos foram adestrados a leituras pequenas de receitas prontas para fazer a vida melhorar em sete dias, em detrimento de leituras mais longas que provocam e geram reflexão; para ‘piorar’, na sociedade do espetáculo em que vivemos, as pessoas querem ler coisas espetaculares que mexem com suas emoções – mais do que adquirir informações, pensar e refletir, as pessoas querem se sentir emocionadas pela leitura. Não que isso seja errado, o problema é que essa tendência leva muitas pessoas a serem mais atraídas por conteúdos sensacionalistas do que por conteúdos sérios e inteligentes. Talvez esse seja um dos motivos que colocam os evangélicos como o grupo que mais compartilha notícias falsas. Mas eu acredito que é uma questão educativa. Não podemos abrir mão do nosso papel pedagógico, de ajudar as pessoas a criarem novos hábitos de leitura. Os pastores também podem ajudar nesse processo, como mostra este artigo.
Quão difícil você acha que é comunicar sobre o campo missionário para pessoas que não conhecem o vocabulário missiológico?
É justamente essa a função do jornalista, já que a própria origem da palavra comunicar vem de “tornar comum”. Então, como jornalista, acredito que tenho o dever de ‘traduzir’ e construir um texto simples, com uma linguagem acessível e sem as expressões e vícios de linguagem dos missionários e missiólogos, para que qualquer leitor, principalmente os leigos, consigam compreender a informação, sem precisar consultar um dicionário.
Ultimato é uma das principais revistas cristãs do Brasil. Você tem algum exemplo para nos falar sobre o impacto que alguma matéria causou em alguém?
Além de artigos, entrevistas e diversos outros conteúdos sobre missões, a revista Ultimato também publica anúncios. Em 2016, uma missionária de João Pessoa que assina a revista Ultimato viu o anúncio do congresso Vocare. Imediatamente ela lembrou de duas moças de sua igreja e falou para elas dessa oportunidade. As jovens se animaram e participaram do Vocare. No ano seguinte ingressaram no treinamento missionário do Centro Evangélico de Missões (CEM) para se preparar e cumprir o chamado de Deus para suas vidas. E tudo começou com um pequeno anúncio na revista. Eu conto essa história, aqui.
Atualmente existem vários sites sobre missões, como é o caso do Radar Missionário. Qual sua opinião sobre esses novos meios? Acha que a quantidade prejudica a qualidade da informação?
Sim, acho que a quantidade pode prejudicar. Hoje, qualquer pessoa pode criar um site, um blog ou uma página do Facebook e publicar o que quiser e como quiser, sem muitas vezes, ter critério na apuração dos fatos, sem checar a veracidade das informações, etc. Então, temos um oceano de informações que está cheio de texto mal escrito, informações equivocadas ou incompletas, dados deturpados, versículos interpretados fora de contexto, enfim, informações que não formam, deformam. Os sites e blogs cristãos sérios precisam zelar pelo conteúdo publicado, produzindo textos bem escritos, checando fontes e fatos, e, principalmente, pensando se o conteúdo publicado vai servir para edificar os cristãos ou apenas gerar polêmicas e divisão.
Como você se envolveu com a Ultimato e quais seus próximos projetos?
Eu conheci a Ultimato em 2007, após ter acesso ao Pacto de Lausanne. Por querer saber mais sobre o assunto e sobre a missão integral da Igreja, cheguei ao site da Ultimato e depois me tornei assinante da revista. Fiquei surpreso com um universo de informações que era desconhecido para mim. Até então, eu não sabia como e nem se era possível que a minha fé pudesse dialogar com as demais áreas da vida humana, como as artes, a política, a cultura, etc. Então, a Ultimato me abriu essa janela. Depois me envolvi com o projeto Paralelo10, que auxilia pastores e líderes do norte e nordeste. Em 2015 mudei-me de Parintins, AM, para Viçosa, MG, junto com minha esposa, para estudar no Centro Evangélico de Missões (CEM). Paralelamente comecei a estagiar na Ultimato, no departamento editorial web, no qual atuo até hoje. Quanto ao futuro, eu e minha família estamos planejando retornar ao Amazonas para desenvolver um projeto de acolhida e evangelização aos indígenas urbanos, e, paralelamente, quero continuar desenvolvendo trabalhos na área do jornalismo.