Entendo que o evangelho pode ser definido como um convite divino à humanidade para a retomada de um caminhar em comunhão com Deus. Na vida cristã, toda e qualquer iniciativa emana desse relacionamento, o qual foi quebrado no evento da queda, mas restaurado por meio da obra de Cristo: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou no corpo da Sua carne” (Colossenses 1.21).
Uma vez chamados para uma vida de comunhão com Cristo, na qual permanecemos nele e ele em nós (João 15:4), somos designados para uma vida de frutificação: “para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15:16).
No capítulo 15 do Evangelho de João encontramos Jesus utilizando a alegoria da videira. Ele assim o faz para destacar a importância de dois aspectos centrais na caminhada da vida cristã: espiritualidade e frutificação.
A manutenção do estado de comunhão do discípulo com o seu Senhor é um ensino que precisa ser considerado com muita seriedade. Na perspectiva divina, uma vida espiritual saudável e frutífera consiste nessa atitude de devoção contínua. É por meio desse relacionamento diário que o discípulo se torna um filho obediente, maduro e frutífero.
O assunto da frutificação tem despertado o interesse de muitos cristãos em nossos dias. Como resultado, temos visto o surgimento de iniciativas, ferramentas e modelos de trabalho que prometem expressivo crescimento numérico. A multiplicação de novos discípulos de Jesus glorifica a Deus: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto” (João 15:8). Todavia, diante deste cenário, uma verdade que precisa ser destaca é que a ênfase primária no capítulo 15 do Evangelho de João está em permanecer, não em frutificar.
Na versão Almeida Revista e Atualizada em português, a palavra permanecer (e suas variantes) aparece onze vezes, enquanto a palavra fruto aparece apenas seis. A leitura atenta do capítulo deixa claro que o imperativo do texto está no verbo permanecer. As Escrituras dão essa ênfase porque a comunhão com o Senhor precede e excede a frutificação. Na ótica divina, a prioridade é a nossa saúde espiritual. O escritor Oswald Chambers, no livro Tudo Para Ele, destaca algo muito importante a esse respeito: “Nada é tão importante como manter-se espiritualmente são e saudável.”
Uma vez que o Senhor é quem nos torna frutíferos, frutificar é uma consequência da atitude de permanecer em Cristo. Por mais esforço que façamos, precisamos nos lembrar sempre que não há outro caminho que nos conduza à frutificação. Desta forma, precisamos reconhecer sempre que não somos capazes de produzir frutos espirituais por meio do nosso próprio esforço, capacidade, metodologia ou estratégia. Somente quando permanecemos em Cristo é que temos condições de frutificar: “permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (João 15:4).
A atitude de permanecer requer a manutenção de um relacionamento pessoal e íntimo com Cristo. Requer ainda uma atitude de perseverança na observância dos ensinos de Jesus e de dedicação ao trabalho que Ele nos mandou realizar.
Quando o discípulo permanece em Cristo, a frutificação se torna uma consequência, um resultado natural. O irmão Dick Brogden tem sido usado por Deus para chamar a atenção da comunidade dos embaixadores de Cristo a esse respeito. Em um evento global ocorrido no Sudeste Asiático no ano passado, ele lembrou a todos os presentes que a melhor estratégia de frutificação que dispomos é a nossa permanecia em Cristo: “Permanecer em Jesus deve ser a prioridade do obreiro e a metodologia básica de sua missão. Se ele permanecer em Jesus, dará frutos. Se não permanecer, não produzirá fruto algum.”
Diante de uma situação de ausência de frutos no desenvolvimento do nosso ministério, não podemos perder o foco, ficar aflitos e desanimar. As Escrituras nos admoestam a permanecermos em Cristo e prosseguirmos trabalhando com fidelidade. No seu devido tempo, os frutos virão, pois o Senhor é fiel e, até mesmo, aquele que leva a preciosa semente com lágrimas nos olhos, “voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmo 126.6).
Por Jairo de Oliveira
Jairo de Oliveira é missionário da PMI (Povos Muçulmanos Internacional) e da World Witness. Serve no Oriente Médio e é autor de vários livros, dentre eles: “Vida, ministério e desafios no campo missionário”. Para adquiri a obra completa ou saber mais sobre o livro Clique aqui
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