Por volta dos anos 70, ocasião em que cursava o Instituto Bíblico Peniel da MNTB, Luiz Antônio da Rocha recebeu um novo nome. Sendo ele grande admirador do escritor e conselheiro cristão, Larry Coy, seus colegas não perderam tempo e há 38 anos é chamado de Coy. Hoje com 61 anos, este carioca, junto com sua esposa Míriam, já teve o privilégio de gastar 35 anos dedicando sua vida ao Senhor entre o povo yanomami na aldeia Marari. Deus os abençoou com três filhos: Telma, Tânia e Elden.
Confins da Terra – Em que ano chegou à aldeia e qual a realidade do povo yanomami naquela época comparada a de hoje?
Coy – Míriam e eu chegamos aqui no início de 79, recém-casados. Começamos nosso ministério com o povo yanomami no Posto Toototobi, falantes do dialeto Xiriana. No fim daquele ano viemos para o Posto Marari, do dialeto Xamatali, para suprir uma necessidade por um mês e aqui estamos até hoje. Naquela época o povo era bem mais primitivo e seminômade. Viviam a maior parte do tempo na mata e pouco tempo na maloca onde podiam trabalhar nas suas roças. Eram bem rudes e com pouca higiene. Havia um grupo de aproximadamente 200 pessoas.
Confins da Terra – A aldeia Marari está distante da base Boa Vista, RR, 02h10min de voo. Sabemos que a distância dos filhos e de tantos queridos faz parte do seu dia a dia. O que o motiva a permanecer num trabalho como este?
Coy – De fato estamos bem isolados, o que é bom por um lado, mas por outro dificulta nossa saída com mais frequência e o contato com nossos filhos. Desde que sentimos a direção do Senhor para virmos até aqui, minha maior motivação está em servi-Lo e em saber que somente pela mensagem de Jesus Cristo é que este povo terá a salvação eterna e também a oportunidade de saber que este Jesus é Maravilhoso, Príncipe da Paz e que Ele faz a diferença na vida das pessoas.
Confins da Terra – Quando se fala em povo yanomami, há um consenso geral quanto a sua bravura. Isto é mito ou realidade? Conte-nos um pouco sobre o porquê dessa fama.
Coy – De fato não é um mito.
Em especial, os yanomami do dialeto Xamatali são conhecidos por roubar mulheres de outras aldeias e consequentemente por suas lutas. São também conhecidos por suas lutas internas, muitas das quais presenciei e como resultado tive que fazer suturas e curativos. Mas é também um grupo alegre que gosta de uma boa conversa e sabe sorrir com vontade.
Confins da Terra – Você lembra algum momento que sentiu muito medo? Como foi?
Coy – Já passei por algumas situações difíceis de ter um certo medo, mas nada de muito grave. Certa vez, um rapaz yanomami me bateu com a lâmina do facão. Isto se deu porque ele tinha entrado com outro indígena na casa de um colega missionário e pegaram pertences. Um jovem, líder da aldeia, me convenceu a ir até ele e tirar o que haviam roubado da casa do colega. Ele ficou com raiva e envergonhado me atacou; o líder quase bateu nele e desencadeou uma briga, mas eu pedi para que parassem. No fim, parte da mercadoria foi devolvida. Coisas deste tipo só nos fortalecem.
Confins da Terra – Com certeza, você e sua família experimentaram lutas e vitórias ao longo desses anos. Pode nos contar uma das grandes alegrias que experimentou?
Coy – Sim, nossa vida sempre foi de lutas, mas também cercada de graça e alegrias. Após anos aprendendo a língua yanomami e depois de ensinar a Palavra de Deus por um bom tempo, quando surgiram os primeiros crentes e os mesmos foram batizados, foi um tempo de muita alegria.
Confins da Terra – Ao pensarmos em algum trabalho missionário, logo vem à nossa mente a formação de uma igreja. Como tem sido este processo aí na aldeia Marari?
Coy – Este processo tem sido bem lento. A formação da Igreja entre povos indígenas requer bastante tempo. Com o entendimento do Evangelho da Cruz, dia após dia um bom grupo está crescendo e testemunhando.
Confins da Terra – Juntamente com a equipe de missionários, vocês têm desenvolvido um belo projeto na área da educação. Gostaríamos de saber qual o objetivo desse projeto? Quantas vidas estão sendo beneficiadas? Para quem tiver interesse em participar deste projeto, como deve proceder?
Coy – No passado, devido a prática do nomadismo, a alfabetização na língua materna era um processo demorado, mas ainda assim, vários yanomamis foram alfabetizados. Com a nova geração, surge também uma nova liderança interessada numa educação de qualidade. Juntos, sentamos e conversamos sobre a necessidade de um novo planejamento investindo tempo nos estudos. Eles aceitaram o desafio e logo começaram a perceber a diferença no aprendizado dos filhos: as crianças terminam a alfabetização mais cedo e podem aprender muitos outros aspectos. São mais de oitenta crianças estudando com o apoio da comunidade.A capacitação para os professores é algo necessário e urgente que requer suporte financeiro enquanto estiverem se preparando na cidade. Se desejar saber mais pode entrar em contato comdivulgacao@mntb.org.br
Confins da Terra – Você e Míriam têm investido suas vidas há 35 anos num trabalho transcultural; que desafio (s) pode deixar a cada leitor?
Coy – Amados, o que Paulo nos diz em I Cor 15:58 “Portanto meus irmãos sejam firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que nele o trabalho de vocês não é vão.” Vocês e nós, juntos, podemos continuar este processo de mudança através da Palavra de Deus. Paulo também disse: “Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente.”
2 Coríntios 9:6 NVI